Leoni e o Manual de Sobrevivência no Mundo Digital
Em tempos de download, nem tudo está perdido para aqueles que ainda querem viver de música
M.A.R
Nas palavras do cantor e compositor Leoni, o Manual de Sobrevivência no Mundo Digital, longe de ser “a fórmula do suce$$o” pra quem quer se dar bem com as novas tecnologias da informação e comunicação, é, na verdade, um conjunto de recomendações feitas àqueles que se encontram perdidos no chamado mundo digital.
Disponibilizado no próprio site do músico, o e-book é muito útil a qualquer um que arregale os olhos diante dos rumos que o mundo vem tomando em tempos de Google, Twitter, Facebook, iTunes e tantos outros.
Apesar de priorizar os que estão tanto começando no mundo da música quanto dela queiram sobreviver – oferecendo, inclusive, dicas imperdíveis sobre criação, produção e divulgação de trabalhos –, Leoni também chama a atenção para o fato de que a “revolução tecnológica transformou irreversivelmente nossa relação com a informação, o entretenimento e a cultura”. E a música foi “a primeira indústria fortemente afetada por essa nova realidade”, embora, atualmente, tais mudanças já atinjam, com a mesma força, “o jornalismo, a publicidade, o cinema, a TV e o mundo editorial. Isso sem falar nas próprias relações humanas”.
Mas no campo da música, em especial, Leoni lembra que a resistência a tais mudanças ainda existe, principalmente em tempos de download, sendo o maior exemplo disso o fechamento, em 2001, do Napster, até então, o maior site de troca de arquivos de música entre usuários da Rede. Fato que nem ao menos diminuiu a realização de downloads, agora feitos em inúmeros sites espalhados pela Internet. Uma realidade contra a qual boa parte da Indústria da Música ainda insiste em lutar, ao invés de a ela se adaptar.
E se música hoje em dia está tão fácil quanto “água”, ficando mais difícil aos artistas ter lucros altos com direitos autorais – já que se pode baixar de graça suas canções -, um dos possíveis caminhos rumo à sobrevivência, seria, de acordo com Leoni, a implantação – inclusive no Brasil – do chamado Spotify, serviço virtual – comum na Europa – que, além de permitir que se ouça qualquer música a qualquer hora, ainda permite criar e compartilhar, com os amigos, listas de canções preferidas. Paga-se uma tarifa premium apenas se não quiser ouvir anúncios comerciais entre as faixas executadas. E não existe a opção de download, algo até desnecessário, “já que se tem sempre acesso a essa discoteca infinita”, que é o Spotify. Além do mais, pesquisas apontam que, pelo menos nos EUA, jovens entre 13 e 16 anos “estão baixando menos música – mesmo a gratuita – e ouvindo mais online”, informa Leoni. Assim, o sucesso na venda de discos só seria possível, aos artistas, caso, além de músicas, eles também oferecessem algo mais às pessoas… O Spotify parece ter tudo para dar certo, uma vez que grandes gravadoras e muitos selos têm cedido suas canções a este imenso acervo virtual. Quanto aos lucros… … as assinaturas e a publicidade iriam direto para um fundo, dividido proporcionalmente entre as canções executadas.
Com relação aos downloads, outra alternativa defendida por Leoni seria a implementação da chamada Tarifa Plana (ou Flat Fee): cobrança de uma taxa pelo acesso à rede em banda larga, onde se poderia baixar ou executar livremente as músicas disponíveis. O valor arrecadado seria dividido entre artistas, selos e compositores que tivessem suas canções baixadas ou executadas. “Nenhum controle para evitar downloads, nada de processar usuários” e um futuro com “algo em torno de quatro bilhões de pessoas pagando uma pequena taxa mensal”, diz o músico.
Porém, o maior obstáculo a ideias como estas seria, nas palavras do cantor, “a oposição ferrenha de diversos detentores de direitos autorais“, os quais “querem ganhar um fixo por download ou compartilhamento, como acontece nas lojas virtuais que seguem o modelo do iTunes”. Por detentores de direitos autorais entenda-se, não os autores, mas, aqueles que ganham com os rendimentos das obras: editoras, gravadoras e sociedades arrecadadoras. Grupos que, segundo Leoni, “ao invés de ganhar centavos de bilhões de pessoas e deixarem a música circular livremente, querem garantir seu modelo de negócios, o que exige um controle extremamente caro e ineficiente”, além de punição aos que infringem a norma…
Este e vários outros assuntos – como, por exemplo, o de como sobreviver da música distribuindo gratuitamente faixas pra download (!) – são tratados de forma clara e precisa por Leoni em seu Manual, livro cuja credibilidade se garante não só por ter sido escrito por um dos grandes responsáveis pelos maiores sucessos do Kid Abelha – ou, mesmo, por um grande nome da Música Brasileira -, mas, sobretudo, por um artista que, diante das inovações tecnológicas que envolvem sua própria carreira, ao invés de ignorá-las – e correr o risco de ser tragado por elas – prefere rever conceitos e adaptar-se… … como num verdadeiro update.
Baixe de graça o livro de Leoni, diretamente do site do cantor:
Assisti ao Leoni aqui em Montes Claros-MG, na Fenics 2010. Showzaço!! Duas coisas me chamaram atenção. Primeiro: Ele estava só com um violão, sem banda nem nada!! Segundo: Fiquei surpreso ao ouvir do próprio que “pirataria não é baixar as músicas e sim comercializá-las”. Fiquei digerindo tais palavras por alguns dias depois do show. Depois disso, fiquei sabendo também que as músicas dele estão no site para download.
Achei uma atitude louvável e no mínimo muito inteligente. A venda de CDs sempre foi a maior fonte de renda para cantores e bandas e a net influiu negativamente nessa questão. Logo, a capacidade de se adequar ao novo é fundamental. Em tempos de “vacas magras”, tenho certeza que se sobressairão aqueles que se adaptarem melhor à essa nova fase “digimusical”…rsrs.
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Estou há muito tempo querendo comentar este seu post,
mas a correria de fim de ano aqui na gráfica tá frenética.
Eu percebi uma coisa muito ruim nesta nova facilidade que temos hoje em dia,
em baixar num click todas as músicas de qualquer artista.
Antes quando eu juntava umas ecomomias e adquiria o álbum de algum artista,
tinha todo aquele ritual de tirar o plástico, olhar cada detalhe do encarte
do cd, as fotos da banda, as letras…sem contar o cuidado sagrado com a nova
aquisição. Se escutava cada faixa do álbum com muita atenção, a ponto de decorar
a sequência das músicas do álbum. Saber qual é a próxima música pela sequência
das notas musicais…enfim, você imaginava a análise musical que a banda articulava
para compor a sequência das faixas.
Hoje em dia o que acontece é o seguinte: Você descobre uma banda nova – de uma maneira
x: por uma amigo, por um programa de rádio, pela tv (não importa). Você não vai mais às
lojas de cds que você conhece. Você vai direto na Internet procurar qual blog tem a
discografia completa pra baixar. Daí você descobre q a banda tem 10 álbuns(com uma média de 10 faixas cada um) com um total de 100 músicas. É informação pra car@@@@@@@@lh*! Impossível alguém conseguir conhecer qualquer banda deste jeito. Não tem como ouvir com calma cada um dos discos. Não é possível absorver o conceito musical da banda. Você vai ouvir uma música do primeiro e falar q é idêntica a uma do 10º álbum e assim vai. Ou seja, em frente aquela salada de discos você não vai perceber o quanto os caras trabalharam para produzir individualmente cada um.
Existem 3 bandas que eu digo q sou fã e tenho todos os discos originais.
São as únicas que sobreviveram às facilidade tecnológicas que temos hoje,
porque eu sei que todas as demais que eu conheci nesses tempos de baixar “de grátis”
foram prejudicadas duplamente por isso.
Agora Maik você me pergunta:
Qual é a solução para as bandas sobreviverem no mercado hoje?
Produzir benefícios para quem compra originais?
Materiais exclusivos funcionam?
Fazer muitos álbuns ao vivo para deixar os que pirateiam doidos?
A única coisa que me faz comprar os originais destas 3 bandas é o
imenso prazer que eu tenho quando descubro cada detalhe do material original.
Apesar do alto preço que pagamos pelos discos, quem é fã sabe que vale a pena
pagar qualquer preço pelos x minutos(aí depende da duração do disco) que se fica
em outra dimensão prestígiando o trabalho do seu ídolo.
Eu acho que muitos dessa nova geração não vai bulhufas do que eu estou falando.
E isso é muito trite.
Parabéns pelo post.
O tema é muito fod4.
Grande abraço.
@jotapehq
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João,
Entendo perfeitamente sua posição frente ao assunto do texto.
E é justamente essa a proposta do blog. Estimular a discussão,
o debate. Gosto disso !
Mas com relação ao tema “Download”, vc tem razão quando diz q não
há nada parecido com a sensação de vivenciar aquele “ritual” de
comprar um disco original, tirá-lo da embalagem, sentir o cheiro de
coisa nova e curtir pacientemente cada faixa …
Porém, querendo ou não, o “Download” é uma realidade da qual não
se pode mais fugir e os artistas já estão obrigados a se adaptar a ela.
E eu prefiro ver o lado bom da coisa. Por exemplo o de q os downloads deram fim a uma era em q a música era privilégio de pouco$. Quantos discos não pude ouvir, no passado, justamente porque não tinha condições de comprá-los ? Tdo bem q tem a questão da pirataria e tudo mais, porém, é o q eu disse : a Indústria da Música terá q se adaptar (e as sugestões de Leoni não deixam de ser uma saída). E, além do mais, diante de um verdadeiro “mar de opções” q o Download nos apresenta, por q “morrer na beira da praia”, só porque seria “errado” baixar grátis o q se pode comprar nas lojas ? Te confesso q eu não teria o conhecimento q tenho hoje se não fosse (também) o Download.
E a coisa tomou uma proporção tão grande q não apenas músicas, mas outras coisas, como livros por exemplo, também já podem ser apreciados por todos, independente das condiçõe$. Quantos livros pude ler graças ao Download ?
Agora, quanto àquele ritual q vc descreveu, acho q isso também é relativo. Esses dias mesmo li uma resenha de um disco em q o autor falava de uma forma tão cativante q me convenceu a adquiri-lo (o artista por si só já merecia).
http://programaaltofalante.uol.com.br/index.php?master=balaio&sub=cd&ac=2&id=388
Ouvi o disco inteiro, mas me decepcionei. Não porque o disco não fosse tudo aquilo q o cara disse a seu respeito, mas porque a qualidade da gravação (original mesmo) não era boa. Imagina, então,
se eu tivesse comprado na loja, embaladinho, bonitinho ? Aquele ritual iria por água abaixo…
Mas, é isso … O assunto é polêmico e não há outra saída a não ser tentar “encontrar uma saída”.
Retroceder … e excluir, novamente, milhões e milhões do direito ao acesso à boa música, definitivamente, na minha opinião, não é a melhor medida a ser tomada.
Abçs!
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Olá novamente Maik!
Isso de fato é um aspecto bem positivo dessa nova facilidade que temos de conhecer vários artistas sem necessariamente ter de comprar os seus discos.
Obviamente que quando se é fã de um artista x, você vai gostar incondicionalmente do novo trabalho dele. Exceto se mudarem do vinho pra água. Aí não têm perdão. rs.
Mas voltando ao ritual, eu quero enfatizar justamente que comprar o CD original da sua banda favorita é inimaginavelmente prazeroso.
Não pelo fato puro e simplesmente da compra. Mas sim por conhecer os trabalhos anteriores, ver se mantiveram o mesmo desenhista de capa, fotógrafo, diagramador e etc. Se a faixa 4 será uma balada igual aos anteriores e tudo mais.
Obviamente que eu já comprei cds de bandas que eu não conhecia bem e achei uma bosta. Por isso qdo essa banda lança algum CD novo eu não o compro, faço download pela net. Eu sou fã do MAX CAVALERA e acredito ter todos os CDs originais com a participação dele. Desde o bom e velho Sepultura até o NAILBOMB, Soulfly, Cavalera Conspiracy e coletâneas como os NIBs da vida e etc. Uma coisa que eu acho mto loko, é olhar na minha mesa e ver arrumadinho todas aquelas preciosidades. ISSO não tem preço! (ou tem)rs
Nesse fim de semana que passou eu fiquei viajando no encarte do primeiro CD dos Raimundos enquanto o escutava no volume máximo. É uma coisa que pra mim é muito diferente do que alguém que baixa toda a discografia da extinta banda e coloca em ordem aleatória, sem saber ao menos de qual álbum se trata aquela faixa.
ISSO eu gostaria de enfatizar como ponto negativo.
Pra finalizar gostaria de dizer que o mais importante é que podemos optar.
Se a geração 2000 vai curtir ter sua biblioteca do Itunes com todas as capinhas,
eu curto ter todos os álbuns originais das minhas bandas favoritas.
Logicamente que eu baixo os álbuns dos meus favoritos tb. Mesmo porque eles ficam disponíveis na internet bem antes de chegarem na loja de CDs. hahaha
Grande abraço MAIK
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… Com relação ao “gostar incondicionalmente” do novo trabalho
de uma banda ou artista q a gente curte, eu te daria só um exemplo
de uma banda que – não sei por que – “mexeu” positivamente comigo:
o Creed. Até que me amarrei no som dos caras (isso com relação aos
3 primeiros trabalhos) e estaria disposto a comprar todos os discos
originais. Mas, depois de um certo tempo, os caras “mudaram do vinho pra água”
(com o disco “Full Circle”) … uma verdadeira “tragédia” !!! Imagina
se eu tivesse comprado o original ?! Estaria “eternamente” arrependido …
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Oi Maik!
Como foi colocado pelo usuário Huston, esse é um tema difícil de ser abordado. Vamos chamar isso de polêmica do mundo virtual.
Em tempos como o nosso, em que o click resolve tudo, acredito que a proposta de Leoni, e colocada por você no blog, é muito válida e coerente com a realidade. É necessário que os artistas brasileiros, assim como suas produtoras e etc, tenham em consciência que os mecanismos de coesão aplicados na “vida real” perdem muita eficácia na internet, além do mais, o crescente movimento de uso da internet possibilita uma maior divulgação de conhecimento, como o caso de e-books e artigos, assim como de material musical.
É inegável que a tendência disso será a maior popularização da música, e se os “detentores” dos direitos autorais não criarem políticas coerentes para lidar com isso, elas irão ao declínio.
“Eu sou da geração de artistas da MPB, Música Para Baixar.”
(Leoni, na Fenics- Montes Claros)
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Adorei o texto. O e-book pode ser baixado gratuitamente nesse link: http://www.leoni.art.br/download_ebook_manual_sobrevivencia.php
Agora saiu o livro físico que tem muito mais informação, inclusive das ações que eu tenho feito no site. Quem quiser adquirir o link é http://www.lojasingular.com.br/manual-de-sobrevivencia-no-mundo-digital_.html
Abs
Leoni
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Que tema difícil hein Maik!
Mas parabéns por essa sua visão completa e também moderna sobre o assunto.
Eu acredito que durante o “correr da carruagem” o Brasil terá que tomar medidas
mais drásticas sim, para tentar controlar o enorme número de downloads que
são rezlizados todos os dias sem “retribuição” aos artistas.
Gostei de me informar sobre o Spotify e sobre a Flat Fee, sistemas muitas vezes desconhecidos, mas que poderiam solucionar grande parte do problema.
É bom lembrar, que aliado com a facilidade dos downloads, está o alto custo dos Cds
originais, questão que dificulta bastante a preferência dos fãs pelos discos comprados
nas lojas. O governo precisa agir em prol do consumidor e em garantia dos artistas, que
também merecem respeito.
Mais uma vez parabéns Maik!
Um abraço!
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